Casarões, museus e cemitérios: veja lugares mal-assombrados na região de Ribeirão Preto, SP (2024)

Em 1868, com a construção da Capela de São Sebastião, veio também a construção do espaço. Naquela época, era responsabilidade da igreja -- e não do estado -- os registros de nascidos e mortos de uma cidade e os cemitérios eram instalados ao lado ou aos fundos das capelas.

É ali, em toda aquela parte que vai da fonte luminosa até o monumento do soldado constitucionalista, que uma vez houve sepulturas e cerimônias fúnebres.

Mas, apesar de ter tudo para ser mal-assombrado, o lugar está longe de ser conhecido como tal, principalmente, por se tratar de um espaço de grande circulação de pessoas, como explica o historiador José Antônio Lages.

"Tem tudo para se criar uma história dessa, 'estou pisando na cabeça de alguém, no pescoço de alguém', mas não pega, porque é uma área transitável. Todo mundo passa ali, todo mundo tem de passar ali, não tem jeito de evitar, mesmo que saiba que foi o cemitério".

Segundo ele, na maioria das vezes, o que faz de um lugar mal-assombrado é o imaginário popular. As histórias de seus moradores e a importância do imóvel para a construção da cidade ajudam um pouco também.

O Palacete Camilo de Matos, atualmente em processo de restauração, é um bom exemplo disso. Foi onde morou Joaquim Camilo de Mattos, que exerceu cargos importantes de vereador, vice-prefeito e prefeito de Ribeirão Preto no século 19.

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Localizado entre as ruas Duque de Caxias e Tibiriçá, teve como seu último morador o ex-prefeito Luiz Augusto Gomes de Mattos até 2006, ano em que morreu.

Palacete Camilo de Mattos no centro de Ribeirão Preto, SP — Foto: Werlon Cesar/G1

"Eu já via essa casa [como] mal-assombrada por estar sempre fechada e, veja só, ele acabou morrendo ali sendo o único morador. Inclusive, o funeral foi na casa. A própria história real das coisas e das pessoas acaba levando também à criação dessas crendices, dessas assombrações. É uma grande fantasia em torno de um fato, de um personagem", diz Lages.

Para o caça-fantasmas Matheus Moraes, não é só isso. Alguns lugares vão além das crenças populares e, de fato, podem assustar os mais despreparados -- ou animar os ávidos por histórias de terror.

Ele começou a investigar lugares mal-assombrados na região de Ribeirão Preto em 2005 e já conta com mais de 100 no currículo. De museus a hospitais, casas e casarões, Moraes garante: tem muitas histórias de arrepiar por trás de várias construções por aí.

Uma das mais famosas rodeia os museus do Café e Histórico, fechados para reformas desde 2016. Era naquele terreno -- antiga Fazenda Monte Alegre -- que vivia o rei do café Francisco Schmidt, uma das pessoas mais poderosas do mundo por volta dos anos 1900.

Fachada dos museus Histórico e do Café em Ribeirão Preto, SP — Foto: Reprodução/EPTV

É ele que, segundo Moraes, assombra os dois imóveis ainda nos dias de hoje.

"Era um coronel bem ruim, a história dele é bem sinistra mesmo, era um cara bem ruim. Lá tem muitas orbes, aquelas energia em forma de círculo, a câmera capta muito isso. E lá é uma energia muito pesada. Você chega e se esgota".

Outro ponto turístico de Ribeirão Preto que também tem registros de aparições é o Centro Cultural Palace, famoso hotel na década de 1920 e ponto de encontro de aristocratas, políticos e prostitutas.

Centro Cultural Palace, em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Matheus Moraes

"O Palace foi o primeiro hotel da cidade. Lá se encontravam os barões do café, muitos magnatas, autoridade e políticos. Há relatos de suicídio e esses espíritos estão lá até hoje, então é muito forte a energia por lá também. Tem a história de uma mulher que foi traída e, em uma de nossas investigações, ela disse que queria se vingar, pedia homens", conta Moraes.

A lista de lugares mal-assombrados na região de Ribeirão Preto também inclui:

  • O hospital psiquiátrico de Brodowski (SP) -- (veja vídeo de uma investigação paranormal abaixo)
  • O cemitério do distrito de Jurucê, em Jardinópolis (SP)
  • A gruta do Itambé de Altinópolis (SP)
  • As sete catacumbas de Jaboticabal (SP)

Casarões, museus e cemitérios: veja lugares mal-assombrados na região de Ribeirão Preto, SP (1)

Caça fantasmas gravaram em hospital psiquiátrico abandonado em Brodowski, SP

Para Lages, uma das explicações para a fama de assombrado é o apego que espíritos possam ter com o lugar que viveram, por exemplo.

"Se alguém vai aparecer na casa que foi a sede da Fazenda Monte Alegre, só pode ser o coronel [Schmidt]. É o dono da casa. A assombração nunca aparece em um lugar muito distante de onde viveu. Ela tem, talvez, um carinho, uma paixão por aquele espaço, é uma questão sentimental mesmo".

Por outro lado, um lugar mal-assombrado também traz a dor de quem viveu ali, o que faz com que o ambiente, muitas vezes, pese de maneira rápida. Um exemplo são os hospitais psiquiátricos, que mantinham seus pacientes em uma espécie de prisão.

"Era para o resto da vida, porque a família abandonava, internava ali, e nunca mais voltava, não queria nem saber do parente que estava lá, e as pessoas morriam lá. É interessante perceber que vários desses hospitais tinham cemitérios também aos fundos", revela Lages.

Quando ninguém quer falar

O que faz de um lugar mal-assombrado é também o que é captado por equipamentos utilizados por caça-fantasmas em investigações paranormais.

Moraes usa, pelo menos, seis: câmeras que filmam na escuridão total, câmeras para fotografar espíritos, gravadores para comunicação FVE, câmeras térmicas para capturas de aparições, spirit box (para comunicação com espíritos) e medidor de campo eletromagnético (pra detectar presença de espíritos no local).

Só que eles se tornam pouco úteis se a assombração não quer se manifestar. Ainda assim, quando isso acontece, o caça-fantasmas diz que vale como um primeiro contato.

"É um tempo perdido da investigação, mas não um tempo perdido do trabalho que a gente foi fazer lá. Porque a gente chega, se apresenta, tenta fazer a comunicação e, mesmo que eles não façam, a gente fala que vai voltar em outra oportunidade e que eles podem ter outra chance de fazer uma comunicação com o nosso mundo. Muitas vezes, na segunda ou terceira vez, já ocorre a comunicação".

Outro ponto que Moraes destaca é que a comunicação não é fluída, como um bate-papo. Segundo ele, nestes locais mal-assombrados, uma palavra já é válida para a investigação.

"Não é como conversamos. Eles vão soltando as palavras. Não é perfeito, não é uma frase longa, é 'estou aqui', 'morri', 'cadeira', então você tem de juntar o quebra-cabeça 'morri na cadeira'. Essa é a parte mais difícil, não pode ter erro".

Por que manifestações são mais comuns à noite?

Quem se interessa pelo assunto sabe que o cair da noite é o momento mais comum para aparições fantasmagóricas. Não é difícil ouvir relatos de gritos, choros e pedidos por socorro em lugares mal-assombrados apenas após o sol se por.

Imagem mostra rachaduras no Museu Histórico de Ribeirão Preto — Foto: Núcleo de Projetos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil da Instituição Universitária Moura Lacerda

Moraes tem uma explicação. Segundo ele, é quando os portais do mundo espiritual se abrem -- o que, geralmente, acontece às 3h33.

"À noite é aberto um portal no mundo espiritual, então esses espíritos ganham força, se comunicam melhor até pelo silêncio. Eles necessitam dessa escuridão para materialização deles. O ectoplasma, que é um líquido etéreo, se forma para eles ganharem forma, e com luz quebra. E 3:33 é a hora que eles costumam aparecer, porque foi o horário da morte de Jesus Cristo, então abre um portal muito forte".

Trabalho perigoso para leigos

De 20 anos para cá, o interesse das pessoas por manifestações e aparições cresceu, muito por conta dos programas de TV e documentários que falavam sobre o assunto no começo do século 21.

Mas Moraes revela que é preciso cuidado para entrar neste universo. Isso porque este tipo de trabalho requer, acima de tudo, conhecimento.

"É perigosíssimo um leigo fazer esse trabalho. Hoje, se você entra nas redes sociais, vê um milhão de caça fantasmas, mas 90% está despreparado. É pessoa que inventa um fantasma e não sabe o perigo que está correndo. A maioria vai pra ganhar visualização e, nessa busca incansável por audiência, comete erros".

Ainda segundo o caça-fantasma, desrespeitar um espaço ou um espírito pode colocar a pessoa em uma situação delicada.

"Eles não sabem o perigo que estão correndo. Eu vejo caça-fantasma no YouTube xingando espírito, afrontando 'ó, vou te bater, porque você não vem aqui me matar'. E não é por aí, estão desrespeitando o lugar. Primeiro porque o lugar não pertence aos vivos e eles vão lá, não tem nenhuma preparação, não fazem nenhum pedido [de licença]. Chegam, pulam muro, entram e fazem uma bagunça. Essas pessoas vão ficar obsediadas para o resto da vida. A hora que viram as costas para ir embora, os espíritos vão com elas".

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