'Acordem, Paris não é Bagdá!': líderes muçulmanos da França convocam fiéis a combater islamismo radical (2024)

Apelos de imãs se multiplicam em várias cidades francesas, convocando os fiéis a condenar a barbárie e a não se renderà "manipulação islamita radical".

"Decapitar um homem por causa de uma caricatura não é o islã, não é a religião, é o islamismo radical, o veneno da religião", afirma o imã Hassen Chalghoumi, presidente da Conferência dos Imãs da França.

Acompanhado dediversas personalidades muçulmanas, o líder deixou um buquê de rosas diante do colégio Bois Aulne, em Conflans-Sainte-Honorine, na grande região parisiense, onde Samuel Paty lecionava.

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Conheça cinco pontos sobre Samuel Paty, professor que foi decapitado na França

Ao ser abordado pela imprensa, Chalghoumi fez um emocionado apelo à comunidade muçulmana, "reitores das mesquitas, imãs, pais e dirigentes de associações". "Eles decapitaram um homem em Paris, não em Bagdá! Acordem, é o futuro de vocês que está em jogo", declarou.

Chalghoumi condenou veementemente a barbárie e pediu que "a justiça aja na mesma proporção que esse crime". Também elogiou a decisão do ministro do Interior, Gérald Darmanin, de desmantelar o Coletivo Contra a Islamofobia na França (CCIF), acusado de alimentar a intolerância islamita e de estar envolvido na incitação ao assassinato de Samuel Paty.

"Um mártir da liberdade"

Interrogado por um jornalistas sobre a pertinência de se exibiras caricaturas de Maomé nas salas de aula, como fezSamuel Paty para falar sobre a liberdade de expressão, o líder salientou seu acordo. Segundo ele, Samuel Paty era "um homem sábio", que ensinava "a tolerância, a civilização e o respeito pelo próximo". "É um mártir da liberdade", reiterou.

O mesmo tom foi adotado da parte de Kamel Kabtane, reitor da grande mesquita de Lyon, no leste do país. "O professor apenas fez o seu trabalho", ressaltou, lembrando que Samuel Paty "tinha o direito de elevar o nível intelectual dos alunos sobre a tolerância e a liberdade de expressão".

Durante a aula em que exibiu as caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal satírico Charlie Hebdo, "ele foi respeitoso e propôs até mesmo que os alunos que pudessem se sentir chocados saíssem da sala".

Kabtane, presidente do Conselho das Mesquitas do Rhône, no sudeste da França, defendeu que o islã "é uma religião da paz e da tolerância", com quem o autor do crime não tem nenhuma relação.

"Terroristas não têm nada de religioso. O Alcorão diz: 'aquele que matou um homem, matou a humanidade inteira'. O profeta não precisa dessas pessoas que usam a religião para tomar o poder", afirmou.

O imã também declarou que os fiéis muçulmanos estão chocados com o assassinato do professor, mas temem ser estigmatizados.

"A comunidade está preocupada com sua segurança e com a imagem que envia. O que vai acontecer daqui para frente? A opinião pública vai com certeza utilizar essa situação para apontar dedos, o que aliás, já começou", lamentou.

Por isso, Kabtane faz um apelo para que os imãs lembrem aos fiéis da importância "da convivência respeitosa e fraterna".

"Estamos engajados emreforçar o estudo dos fundamentos ideológicos do pensamento extremista e o combate daqueles que os alimentam e os financiam", disse.

Plano de ação contra o radicalismo

Na segunda-feira (19), representantes do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), a maior organização islâmica do país, se reuniram com o presidente Emmanuel Macron. O presidente da entidade, Mohammed Moussaoui, conversou nesta terça-feira com a RFI sobre o encontro, que tratou principalmente sobre um plano de ação para lutar contra o radicalismo.

Segundo ele, o Conselho Francês do Culto Muçulmano será reorganizado e os imãs serão submetidos a uma formação. Além disso, o novo programa prevê que esses líderes religiosos não venham mais de outros países para atuar na França, como já havia anunciado o governo no início deste ano.

"É preciso renovar o quadro de imãs que chegam à aposentadoria e sobretudo desenvolver um contradiscurso contra os pregadores de ódio e os imãs autoproclamados, que são extremamente prejudiciais aos muçulmanos da França", afirma.

Um recente pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) mostrou que 74% dos franceses muçulmanos de menos de 25 anos afirmam que suas convicções religiosas estão acima dos valores republicanos –dados que preocupam Moussaoui. No entanto, o líder acredita que a situação não é irreversível.

"Não podemos cair no pessimismo. Sim, há atos de terrorismo que abalam nosso país, há uma tensão que atravessa nosso país, mas quando olhamos para a imensa maioria de nossos cidadãos, eles têm vontade de viver juntos, de se defender e se proteger mutuamente", sublinha.

"Os muçulmanos da França sabem que passamos por momentos muito difíceis, e a multiplicação desses atos criam um clima de medo. Por isso é preciso que eles mostrem ao país sua lealdade aos valores da República", conclui.

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